Férias para voltar com cabelo

Férias para voltar com cabelo.

Ir de férias e trazer mais cabelo, tudo por pouco mais de dois mil euros. É pelo menos isso que prometem os pacotes de turismo da saúde para a Turquia, no que diz respeito ao transplante capilar, e que, cada vez mais, são procurados pelos europeus, incluindo muitos portugueses.

Basta googlar as palavras “transplante capilar Turquia” e logo aparece uma página em português escorreito a apresentar o trabalho do cirurgião Serkan Aygin, que opera em Istambul muitos europeus, sobretudo alemães, franceses, espanhóis, italianos e portugueses. O número de telemóvel português já não está disponível, mas é possível preencher um formulário para contacto, que será feito a partir de um consultório em Espanha, parceiro da clínica turca.

O preço enche o olho e os sonhos de quem gostaria de ter de volta a cabeleira original: 2390 euros, que incluem, além do implante, exames e consultas, as viagens, o hotel, os transfers, motorista e até um intérprete. A página apregoa, inclusivamente, que a intervenção dura apenas um dia e que, no seguinte, o paciente já estará livre para passear. Ou seja, juntar o melhor de dois mundos.

NA PRIMEIRA PESSOA

Tanta facilidade atraiu Nuno Alves. O nome é fictício, pois este economista e professor de Oeiras de 36 anos não se sente à vontade em partilhar a sua identidade, ainda que o motivo do seu depoimento acabe por ser perfeitamente óbvio para todos aqueles com que se cruza diariamente. “A maioria das pessoas com este problema, e são muitas, tende a passar uma boa parte da sua vida a tentar desvalorizar o assunto. Só que, apesar desse esforço, tem consequências psicológicas, apoquenta-nos no dia a dia”, diz Nuno, que sublinha ainda: “Isto é uma doença, que tem consequências psicológicas catastróficas e devia ser encarada como tal pelo próprio e pelos outros. No meu caso, vem de família: já o meu pai e o meu avô eram calvos. Ainda por cima continuamos a viver numa sociedade que tende a criticar quem, por uma questão estética, resolve submeter-se a um tratamento que encerra dor, desconforto e tempo de recuperação. Até que houve um dia em que decidi que as críticas não iriam continuar a demover-me. O conformismo só rege os fracos de espírito e, por acaso, quando tomei a decisão de realizar o transplante, descobri também estes pacotes ‘all included’ para a Turquia”, recorda.

Entre o primeiro contacto e o dia em que embarcou no aeroporto de Lisboa, no passado mês de novembro, com destino a Istambul passou pouco mais de um mês: “Fui sozinho mas, hoje, talvez tivesse ido com a minha mulher, pois talvez ela pudesse ter aproveitado para conhecer a cidade. Na altura, as nossas agendas não se conseguiram conciliar.”

Nos três dias de ‘escapadinha’, o primeiro foi dedicado à cirurgia, no segundo saiu para jantar e deu um passeio pela margem do Bósforo e, no dia seguinte, antes de apanhar o avião, ainda passou pela Igreja da Divina Sabedoria no parque de Sultanahmet, uma das principais atrações turísticas da cidade: “Não fui propriamente para passear. Estava muito concentrado no transplante, porque era algo que queria fazer há muito, e também porque senti alguma dor no pós-operatório, mas ainda acabei por dar uma volta.”

A clínica de Serkan Aygin abriu em 1973 e é uma das mais conceituadas de Istambul. Fica no distrito de Sisli, no lado europeu da cidade, zona de centros médicos, financeiros e comerciais e perto das principais atrações turísticas da cidade. A maioria da clientela é estrangeira, atraída pelos preços baixos e as taxas de sucesso que os responsáveis garantem ser de 99 por cento. Independentemente da língua, todos têm o acompanhamento de um intérprete durante o procedimento. Ali são realizados perto de 14 transplantes por dia. Mas não é a única a operar na área da dermoestética e da cirurgia capilar num país que resolveu apostar fortemente no turismo da saúde.

Para quem prefere um contacto presencial, em Huelva e Sevilha, ficam os dois consultórios que servem de ponte entre os calvos da Península Ibérica e a Turquia, pois muitos preferem realizar a primeira consulta presencialmente. Aqui, o pacote custa 2999 euros, e também já teve muitos compradores nacionais: meio milhar, mais concretamente, segundo o médico espanhol Nicolas Perez, representante em Espanha da clínica turca.

Mas no país vizinho há até pacotes mais baratos, na ordem dos dois mil euros, segundo o jornal espanhol ‘El Mundo’. A empresa justifica o baixo preço com o facto de os “custos de gestão de um hospital na Turquia serem mais baixos do que no resto da Europa, bem como a remuneração de enfermeiros e médicos especializados (que ronda 800€ mensais) e ainda com os apoios que o estado turco está a dar para incrementar o turismo capilar no país”.

Atualmente com mais de 250 clínicas do ramo, que fazem também transplantes de sobrancelhas e barba, a Turquia tornou-se Meca europeia do transplante capilar. Só espanhóis, mais de 10 mil viajam por ano para preencher a cabeça.

FOLÍCULO A FOLÍCULO

“Começámos a trabalhar no ano passado e os portugueses que se dirigem aos nossos consultórios vêm sobretudo pelo Algarve. Mas temos voos tanto com partidas de Faro como de Lisboa. Na sua grande maioria são homens jovens, na casa dos trinta anos, mas também já recebemos algumas portuguesas. Duas, para ser mais concreto, mas para realizar enxertos de sobrancelhas”, explica o médico, que adiantou que ainda este ano vai ser realizada uma apresentação em Portugal com vista à angariação de um parceiro no país.

“O processo é altamente bem sucedido. Diria que na ordem dos 90 a 95 por cento. São muito poucos os pacientes que necessitam de realizar uma segunda sessão. E quando isso acontece só pagam a viagem”, explica Nicolas Perez para justificar tanta procura.

Na Turquia, a cirurgia é realizada segundo um método que extrai e implanta folículo a folículo (que é estrutura composta por um fio de cabelo, com seu respetivo bulbo, glândula sebácea e sudorípara) e o preço estipulado pelo tempo de trabalho efetivo da equipa médica e não segundo o número de folículos implantados. Ora isso significa que numa única sessão de seis horas podem ser transplantados até seis mil folículos. E tudo está desenhado para facilitar a vida e agarrar o calvo – não é sequer preciso sair de casa para marcar viagem e transplante, basta uma fotografia, que será analisada. Se o parecer médico for positivo, o cliente é convidado a escolher as datas da cirurgia e a realizar a reserva antecipada da viagem (pela AraTravel, operadora turística que detém o pacote), tendo que adiantar apenas a quantia relativa ao voo. Na data marcada, um motorista da clínica estará no aeroporto à espera do cliente para o levar para o hotel. O pagamento total é feito após a alta.

A par com a Turquia, também a Grécia, Hungria, República Checa e Portugal são um destino low cost para a implantologia capilar.

Numa clínica em Faro, por exemplo, as cirurgias custam 3500 euros, em média metade do que no Reino Unido (origem da maioria dos pacientes), o que significa que mesmo com viagens e estadia o paciente fica a ganhar.

Ainda assim, o turismo da saúde low cost algarvio enfrenta concorrência de peso: por 1545 euros e tendo como destino a República Checa, os pacotes oferecem aos britânicos 350 raízes (cada raiz corresponde ao crescimento natural de vários cabelos) transplantadas por um cirurgião em Praga, consulta inicial e exame, anestesia, antibióticos para o pós-operatório, consultas pós-operatórias durante um ano e assistência durante a estadia na República Checa.

Por cá, as empresas portugueses que operam nesta área veem com alguma descrença estes pacotes low cost: “Além dos custos que variam de país para país, também há diferenças nas garantias que são dadas. Por outro lado, nesses países nem sempre os médicos são especializados.” Uma coisa é certa, já não há razão para viver sem pente.

Fonte: http://www.cmjornal.pt/mais-cm/domingo/detalhe/ferias_para_voltar_com_cabelo

Author: AdMinTurQuia17